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Não conhecia a Europa Oriental, mas tinha muita vontade de ver e sentir de perto os lugares, as pessoas, muitas delas que viveram e sofreram com o comunismo e o nazismo implantado à força na região.

Berlim, uma cidade com marcas ainda recentes de muito sofrimento, foi a minha porta de entrada.

Vibrante, jovem, cultural, inventiva, esportiva. Berlim é uma cidade que foi e ainda é obrigada a se reinventar, mas que não nega o seu passado, ao contrário, faz questão de lembrá-lo em cada esquina, sem queixas e com uma forte vontade de renascer. Me identifiquei. Decidi conhecer a cidade correndo. Com 40 anos completados, decidi, como a cidade, me reinventar e correr a minha primeira maratona.

Para hospedar, o Mitte (meio), antigo bairro central de Berlim, é ideal. Perto dos principais museus e da maioria dos pontos turísticos, é bem estratégico e compreende mais ou menos o traçado do muro de Berlim, que, aliás, é representado por uma fileira dupla de pedras que passa pelas ruas e calçadas que ele cortava.

É em Mitte que se localiza uma das mais belas praças da Europa, a Gendarmenmarkt, e no seu entorno ótimos restaurantes, como o Borchardt, onde comi um schnitzel com batatas delicioso.

O Congresso, com sua cúpula de vidro (visitas grátis mas com reserva prévia pela internet), Portão de Brandemburgo que cruzei emocionada depois de correr 42 km; a ilha dos museus onde está um dos museus mais bacanas que já fui, o Pergamon Museum; Charlie Point, uma das três passagens que existiam entre Berlim Ocidental e Oriental; o monumento ao holocausto, blocos cinzas de cimento como sarcófagos, de tamanhos diferentes e que, juntos, formam caminhos tortos, labirintos e causam uma certa sensação claustrofóbica e opressiva quando interagimos com a obra. Tudo isto está em Mitte.

Para ter uma visão geral da cidade, inclusive sob o aspecto geográfico (não sou muito boa com mapas), agendei um walk tour com o Brewer’s Berlin Tours (www.brewersberlintours.com). Por apenas EUR 15,00, foram 6 hrs conhecendo as histórias, curiosidades e principais atrações turísticas da cidade. Nosso guia, o Jonathan, um alemão judeu muito espirituoso e antenado, nos mostrou, entre outras coisas, o interessantíssimo bairro judeu, suas passagens escondidas e lindíssimas e curiosidades, como as plaquinhas chamadas de pedras do tropeço e que foram fixadas ao chão da cidade em frente a algumas casas ou lotes. Com o nome das famílias judias que ali moravam e foram levadas para os campos de concentração, nos forçam a abaixar para lê-las (um sinal de respeito) e são feitas de um metal dourado que quanto mais é pisado mais brilha, uma alusão e homenagem aos judeus.

Ainda no bairro judeu vale chamar atenção para a Blindenwerkstatt – a fábrica dos cegos. Lá, Otto Widt, um empresário alemão quase cego e fabricante de escovas, pinceis e vassouras empregou mais de 30 judeus cegos ou surdo-mudos entre 1940 e 45. Parte dos bens ali produzidos eram trocados no mercado negro por remédios, comida e documentos falsos para os judeus. Abrigou membros da família Horn e Licht por muitos anos em câmaras escondidas. Até hoje não se sabe o número exato de judeus por ele salvos.

O cemitério judeu mais antigo de Berlim, o velho asilo judeu que virou prisão por onde passaram mais de 55000 judeus, Die jüdische Knabenschule, a primeira escola judia fundada pelo filósofo judeu Moses Mendelssohn em 1778, Sophienkirche, igreja católica onde Martin Luther King fez um discurso incendiário contra o racismo em 1964, o lindo St. Hedwig-Krankenhaus, antigo hospital católico cujo projeto foi do mesmo arquiteto da belíssima Catedral de Colônia e onde também foram salvos muitos judeus. Por fim, a Die Neue Synagoge, em estilo oriental com sua belíssima fachada ainda original e sua impressionante cúpula dourada que foi reconstruída após a guerra.

Para saborear, a indicação no bairro fica por conta da Schokogalerie, loja de chocolates e de brinquedos e do Sophieneck, um café e restaurante tradicional da região e um bom ponto de parada para comer algo e se aquecer com um bom café.

Em Potsdamplatz, uma região mais moderna mas não menos interessante, fica o Sony Center e a sede da Orquestra Filarmônica de Berlim, considerada a melhor orquestra do mundo. Se não conseguir comprar ingressos para assistir a algum concerto, é possível se fazer uma visita guiada que acontece diariamente às 13 hrs e, se tiver sorte, assistir a algum ensaio.

Além de ser uma cidade ideal para caminhar e correr, porque plana, Berlim tem um dos sistemas de transportes mais eficientes da Europa. Você tem opção de metro (U-Bahn), trem (S-Bahn), bonde e ônibus e chega a qualquer região da cidade e arredores. Não bastasse, é uma cidade excelente para ser conhecida de bicicleta.

Foi de “bike”que decidi conhecer Kreuzberg, uma região que está para Berlim assim como o Brooklyn e Williamsburg para NYC. Cool, alternativa, vibrante, é lá que está a maioria da riquíssima “art street” da cidade e onde estão a moda alternativa e os bares mais descolados. É onde tudo acontece, durante o dia e principalmente à noite. KaterHolzig, armazém convertido em moderno bar-restaurante à beira do Spree, rio que corta a cidade. Arena é a pedida para os festeiros e fica perto do Badeschiff, contêiner de carga transformado em balneário flutuante no rio que no inverno faz as vezes de sauna, com piscina semi-fechada. Incrível esse lugar! Dulcinéia, Dulci para os íntimos, foi quem me acompanhou nesse passeio. Idealizadora do blog Conexão Berlim, mora em Kreuzberg há mais de 10 anos e conhece a região como a palma da mão.

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